domingo, 10 de maio de 2009

Quem está no comando?

Tudo muda com um piscar de olhos. A televisão vai acabar. O jornal vai acabar. O mundo vai acabar. De maneira alarmista, para variar, o ser humano já está, mais uma vez, decretando a morte de algo que acaba de nascer para lançar o novo, o mais prático, o mais moderno. Há alguns anos, a internet não era nada. Mal as pessoas conheciam o ICQ, e lá estava o MSN. Messenger? Pra quê, o Gtalk é muito mais prático! Que nada, a onda agora é o Twitter. E da mesma maneira que tudo se dissolve rapidamente, a internet agora ganhou um nome avançadinho, tem até número, que dá aquele ar de modernidade que a gente gosta: virou Web 2.0. O fato é que a chuva de conteúdo que recebíamos das instituições jornalísticas e de fonte relativamente confiável, agora virou uma avalanche de bobagens sem ter fim. Todo mundo opina, todo mundo está certo e todo mundo tem a sua teoria brilhante. Sensacional, sim, se isso, na maioria das vezes, não fosse lixo puro.

Me cansa visitar blogs com textos enormes, cheios de opiniões replicadas que, no fundo no fundo, não querem dizer nada. Ou é, simplesmente, mais do mesmo. Mas é esse o poder que a Web 2.0 dá às pessoas, e está todo mundo mais feliz assim. A humanidade está globalizada de tal forma que as pessoas precisam debater, trocar informações e interagir. E quem ganha com isso somos nós mesmos, resta saber filtrar o que é bom e o que é ruim.

O surgimento dos blogs deu voz a uma humanidade ávida por interatividade. E não é à toa que a comunicação está na moda. Grandes jornalistas, profissionais renomados, todos se renderam aos blogs e ganharam notoriedade com isso. Noblat, Miriam Leitão, Ancelmo Góes já tinham suas carreiras estabelecidas, mas seus furos jornalísticos na esfera virtual só aguçaram ainda mais a vontade que todo mundo (ta bom, a maioria, vai...) no fundo tem dentro de si, de ser jornalista. De deter informação, de estar bem informado e, sobretudo, ser o primeiro a saber. Estar bem informado é questão de status. Ter informações concisas e relevantes, é um fator de destaque. Os blogueiros de plantão não ganham dinheiro (quer dizer, a grande maioria. Ou se já ganham, assumo, ainda não tive notícia de tal advento) colocando informação precisa na web, ganham status. E isso todo mundo quer ter.

Esse movimento já estava tão crescente na internet que os jornais não podiam fechar os olhos para tanta interatividade. Estava lá, era só agregar. Tanto que o jornal O Globo, imagino eu ter sido precursor nesse quesito, estampou na primeira página uma foto tirada com a câmera de celular de um leitor. A partir daquele momento, muita gente quis ser o provedor da melhor foto, do melhor ângulo, da informação que ninguém tem, só ‘eu’. A web 2.0 permitiu essa interatividade, esse poder. E o jornalista, está ficando a ver navios.

Há muita troca de informação, de dados, de mídia, mas o bolso não enche. A idéia de que cada clique faria a máquina registradora soar mais um sinal é fake. O jornalista escreve para o jornal, que publica em seu site. Os leitores lêem, interagem, aparecem no impresso com o status ‘leitor cicrano de tal’, e só. Agora resta para os jornais conseguir criar uma fórmula mágica que faça com que as pessoas paguem pelo que estão lendo, não só no papel, mas também na web. Afinal, a empresa banca o trabalho do jornalista e, atualmente, quem está bancando os gastos da empresa? Ninguém. Ah, sim, os mirrados sponsors que não fazem sequer pagar a conta de telefone de um mês de redação fervorosa.

O Jornal Extra faz um trabalho fantástico com os MOJOs, mas ainda não consegui chegar ao ‘um’ a minha contagem de anúncios que não sejam de produtos da casa. E a audiência, seguindo a lógica do número de comentários, a mais imprecisa de todas, claro (mas está lá), não é tão grande quanto o advento que é um jornal popular ter uma mobilização de mídia como essa na web. Esses dias pensei em perguntar ao meu editor o porquê de a gente não fazer um trabalho semelhante. Antes, porém, pensei em quais argumentos eu apresentaria a ele para embasar minha sugestão. Quando pensei na questão financeira, desisti da idéia: seria puro status. Nesse caso, credibilidade.

Mas credibilidade dá poder ao jornal, e isso faz vender mais, porque o leitor confia naquele veículo como fonte de informação. Então voltando ao raciocínio: o leitor saiu das páginas da web para interagir com o impresso. Ok, ele está familiarizado com essa interatividade. Mas um leitor que paga R$ 1 para uma leitura enxuta está preparado para ‘bancar’ uma estrutura na internet? Está preparado para entrar na internet e assistir a um vídeo? Ele tem máquina para isso? Banda larga para tal? De acordo com o Ibope Nielsen Online sim. São 88% de usuários conectados por banda larga no Brasil. A projeção é de que 62,3 milhões de pessoas acessem a internet seja de casa, do trabalho, ou de outro local. No entanto, para mim, a questão é mais prática do que teórica: quem paga R$ 1, compra o jornal na banca (não faz assinatura) às 6h ou 7h, vai parar para ver uma notícia ‘mais completa’ na internet? Sinceramente, acho que não.

Enquanto isso o jornalista vai trabalhando sem saber onde isso tudo vai parar. Até mesmo porque, quando os executivos descobrirem que tantos profissionais mais chupam informações da web do que imaginam, periga deixar os verdadeiros “guardas de trânsito”, como foi citado por um companheiro nosso no primeiro chat da turma, para definir o que é importante, ou confiável, e não é. E assim manter um jornal cheio de informação e com custo mínimo. Não sei de que forma a web semântica pioraria ainda mais o papel do jornalista com o caminho sem volta da web 2.0. Mas, para mim, certamente piora, porque incrementa a exploração do conteúdo, dá mais voz aos blogueiros e menos aos jornalistas. Quer dizer, será? Também não sei...

3 comentários:

  1. Bruna, adorei seu comentário!!! Interagir tem sido muito bacana mesmo. Grande abraço, Fernanda :)

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  2. Acho que compartilhamos algumas desconfianças com essa ideia de 2.0. E com a ideia de jornalista-guarda-de-trânsito.

    Tenho a impressão de que, apesar da quantidade de informação que existe por aí (e talvez exatamente por causa disso), as pessoas nunca foram tão mal-informadas.

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  3. Longa vida ao Meia! Somos colegas. Também gostei do seu texto!

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